sexta-feira, 26 de novembro de 2010

BE_once: performance artística do Teatro Sarcáustico




"Em BE_once, os performers 'brincavam' com a possibilidade de mudar suas identidades através da reconfiguração de seus corpos, o que coincide com duas reflexões de Le Breton: a primeira diz que 'todo corpo contém inúmeros outros corpos virtuais que o indivíduo pode atualizar por meio da manipulação de sua aparência e de seus estados afetivos' (apud. MALYSSE*, 2007, p. 79), ao passo que a segunda percebe que 'o corpo não é mais apenas, em nossas sociedades contemporâneas, a determinação de uma identidade intangível (...), mas uma construção (...), um objeto transitório e manipulável suscetível de muitos emparelhamentos. (...) Hoje o corpo constitui um alter ego, um duplo, um outro si mesmo, mas disponível a todas as modificações, prova radical e modulável da existência pessoal e exibição de uma identidade escolhida provisória ou duravelmente' (LE BRETON**, 2003, p. 28). (...) Através da tentativa de assumirem um corpo que não era o seu, os performers colocavam à prova essas imagens-normas, que, segundo Malysse, vão convidando os espectadores a considerar seu corpo como defeituoso e vão incentivando-os a 'corrigir' este corpo através de 'numerosos rituais de autotransformação, sempre seguindo os conselhos das imagens-normas veiculadas pela mídia (...). A mídia apresenta o corpo como um objeto a ser reconstruído tanto em seus contornos quanto em seu gênero. Por meio de complexos mecanismos de incorporação de estereótipos corporais, o corpo torna-se então uma superfície virtual, um terreno onde são cultivadas identidades sexuais e sociais' (MALYSSE*, 2007, p. 94). É precisamente na crítica a estas convenções sociais, através de um discurso corpóreo que seja oposto a elas, que reside a maior qualidade de BE_once: frente à ficção de uma forma corporal imposta por rituais sociais estabelecidos, os artistas apresentam um corpo diferenciado, que se aproxima do que Glusberg escreve como '(...) um corpo que dramatiza, caricaturiza, enfatiza ou transgrida a realidade operativa.' (GLUSBERG***, 2009, p. 57)." (excerto do artigo "Eu sou Beyoncé: uma reflexão-crítica sobre a performance artística BE_once", de Daniel Colin).



(*) MALYSSE, S. Em busca de (H)alteres-ego: Olhares franceses nos bastidores da corpolatria carioca. In: GOLDENBERG, M. (org.). Nu & Vestido: dez antropólogos revelam a cultura do corpo carioca. Rio de Janeiro: Record, 2007, p. 79-138.


(**) LE BRETON, David. Adeus ao corpo: Antropologia e sociedade. Trad. Marina Appenzeller. Campinas: Papirus, 2003.


(***) GLUSBERG, Jorge. A arte da Performance. Trad. Renato Cohen. São Paulo: Editora Perspectiva S.A., 2009.
“O corpo ocidental está em plena metamorfose. Não se trata mais de aceitá-lo tal como ele é, mas sim de corrigi-lo, transformá-lo e reconstruí-lo. O indivíduo contemporâneo busca em seu corpo uma verdade sobre si mesmo que a sociedade não consegue mais lhe proporcionar. Na falta de realizar-se em sua própria existência, este indivíduo procura hoje realizar-se através de seu corpo. Ao mudá-lo, ele busca transformar a sua relação com o mundo” (LE BRETON apud. GOLDENBERG*, 2007).


(*) GOLDENBERG, Mirian (org.). Nu & Vestido: dez antropólogos revelam a cultura do corpo carioca. Rio de Janeiro: Record, 2007.

Androginia (Revista Candy)

CANDY é a primeira revista de moda totalmente dedicada a celebrar o travestismo, a transexualidade, o cross dressing e a androginia, em todas as suas manifestações. Em sua segunda edição, o fotógrafo Karim Sadli fez um editorial, no qual manipula o gênero de alguns modelos masculinos. O resultado é bastante interessante. Confira abaixo: