sábado, 30 de abril de 2011

EU SOU BEYONCÉ: UMA REFLEXÃO-CRÍTICA SOBRE A PERFORMANCE ARTÍSTICA BE_ONCE (artigo)


Artigo meu publicado na Revista "Cena em Movimento", edição 2, do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas (PPGAC-UFRGS).


EU SOU BEYONCÉ: UMA REFLEXÃO-CRÍTICA SOBRE A PERFORMANCE ARTÍSTICA BE_ONCE - Daniel dos Santos Colin

RESUMO: Este artigo faz uma análise-crítica da performance artística BE_once, do grupo Teatro Sarcáustico (Porto Alegre/RS). A performance faz uma crítica à corpolatria ao confrontar duas ideias de modelo corporal: o “corpo canônico” e o “corpo dissonante” (FONTES, 2007). A partir da imagem corporal da cantora norteamericana Beyoncé, os performers remodelam seus próprios corpos através de artifícios como maquiagem, peruca e cinta modeladora, por exemplo.

PALAVRAS-CHAVE: Performance art; “Corpo canônico”; “Corpo dissonante”; Corpolatria.


***Para acessar o artigo completo, clique
aqui.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

"Queria tirar férias de mim" (COLIN, Daniel. In: Pensamentos de adolescência tardia.)
“Além dos impulsos do inconsciente, entra nos processos criativos tudo o que o homem sabe, os conhecimentos, as conjecturas, as propostas, as dúvidas, tudo o que ele pensa e imagina. Utilizando seu saber, o homem fica apto a examinar o trabalho e fazer novas opções. O consciente racional nunca se desliga das atividades criadoras; constitui um fator fundamental de elaboração. (...) Na verdade, porém, o ser humano não pode ser considerado em partes, só pode ser considerado como um todo integrando as suas partes (...) O ato criador, sempre ato de integração, adquire seu significado pleno só quando entendido globalmente” (OSTROWER, Fayga. Criatividade e processos de criação. Petrópolis: Vozes, 1984, p. 55-56).

terça-feira, 19 de abril de 2011

“A mídia manipula o real (artificialmente se criam padrões, mitos, imagens etc. que passam a ser aceitos como verdade). O que se faz na performance é, utilizando-se essas mesmas ‘armas’ (incluindo-se tecnologia e eletrônica), manipular também o real para se efetuar uma leitura sob outro ponto de vista” (COHEN, Renato. Performance como linguagem. São Paulo: Editora Perspectiva S.A., 2009, p. 88).



quarta-feira, 13 de abril de 2011

People's Most Beautiful 2011


Clique na imagem prá conhecer as beldades do mundo...
¬¬
"(...) se há uma arte que se beneficiou das aquisições da performance, é certamente o teatro, dado que ele adotou alguns dos elementos fundadores que abalaram o gênero (transformação do ator em performer, descrição dos acontecimentos da ação cênica em detrimento da representação ou de um jogo de ilusão, espetáculo centrado na imagem e na ação e não mais sobre o texto, apelo à receptividade do espectador de natureza essencialmente especular ou aos modos das percepções próprias da tecnologia...). Todos esses elementos, que inscrevem uma performatividade cênica (...) constituem as características daquilo a que gostaria de chamar ‘teatro performativo’" (FÉRAL, Josette. Por uma poética da performatividade: o teatro performativo. In: Sala Preta - Revista de Artes Cênicas. São Paulo: PPG Artes Cênicas USP, 2008, nº 8, p. 198).

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Inspirações: "Sissy!", de Nando Messias



Transexual brasileira Lea T entra em lista das modelos mais importantes do mundo


"Lea T, transexual brasileira, acaba de ser inclusa na lista das modelos mais importantes do mundo. A 40° posição é dela. Dentre seus trabalhos mais conhecidos estão fotos para a Givenchy. Lea é adorada pelo estilista da marca.

Em comunicado à imprensa, a Way Models, que a representa no Brasil disse que 'ela já sabe da novidade e está super feliz com a indicação'”.

Post original: http://forumbaianolgbt.blogspot.com/2011/01/transexual-brasileira-lea-t-entra-em.html

Post enviado por Helene Biehl: http://blogconfis.blogspot.com/2011/02/it-lea-t.html



Performatividade e teatralidade

"Qual o limite, que diferença estabelecer entre performatividade e teatralidade? Talvez seja neste reportar-se à si e à identidade, mais forte na performatividade que na teatralidade, que devemos encontrar uma distinção possível. O processo performativo age diretamente no coração e no corpo da identidade do performer, questionando, destruindo, reconstruindo seu eu (moi), sua subjetividade sem a passagem obrigatória por uma personagem. A performance toca o sujeito que vai para a cena, que se produz, que executa. (...) O ato performativo está no coração do funcionamento humano" (FÉRAL, Josette. Performance e performatividade: o que são os Performance Studies?, p. 83 In: MOSTAÇO, E., OROFINO, I., BAUMGÄRTEL, S., COLLAÇO, V. (organizadores). Sobre performatividade. Florianópolis: Letras Contemporâneas, 2009).


Eu juro que a minha pesquisa é em ARTES CÊNICAS, meu povo! Porque é só o que eu sei fazer... É evidente que ela namora a Antropologia, a Sociologia e outras disciplinas, já que eu não compreendo o teatro fechado em si mesmo... mas o foco é em ARTES CÊNICAS! Combinamos assim? heheheh Abraços

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Caralhopotência

Corpo do mês: Ariadna (BBB 11)



"É chato ser rotulada. Eu gostaria de ser vista como mulher sem precisar contar para o mundo que nasci menino" (Ariadna)



Narcisismo








Pina Bausch e José Gil

Inspirado pelas leituras do livro "Movimento Total" do José Gil e por ter comprado o ingresso pro espetáculo "Ten Chi", da Companhia Pina Bausch...


“Deixando de adoptar uma postura natural, o corpo dá-se um artifício, faz-se artificial: pode doravante tornar-se imagem, quer dizer matéria de criação de formas. (...) Este ponto crítico é um ponto de caos – múltiplas forças podem nascer dele. Procurando desestabilizar a atitude natural, o bailarino quer criar as condições que lhe permitirão tratar o corpo como um material artístico” (GIL, José. Movimento Total – O Corpo e a Dança. Lisboa: Relógio D’Água Editores, 2001, p. 24).


Não-Kurt Cobain

Não-Justin Bieber

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Corpomídia: instrumento para caminhar na zona de fronteira, por Helena Katz

RESUMO

A proposta aqui apresentada, condensada no conceito de Corpomídia, trata do corpo fora do modelo da caixa preta, que o divulga como o meio onde uma informação adentra (input), é nele processada, e dele sai para o mundo (output). Corpomídia nasce da hipótese de que tudo o que é vivo existe como resultado sempre parcial de uma condição co-evolutiva; e apoia-se em outros entendimentos do binômio dentro/fora, que modificam a própria noção de fronteira.
A multiplicidade de suas abordagens faz do corpo um assunto de tratamento difícil e pede por uma metodologia de investigação que misture fontes acadêmicas e literárias com informações colhidas em jornais e revistas do cotidiano. A complexificação da cena contemporânea pede por instrumentos teóricos que dêem conta da sua plasticidade, em contínuo processo de produção de geografias intersticiais.


O homem já tinha olhos quando não passava de uma gosma no fundo do mar - e, provavelmente seja essa a razão pela qual lava os olhos com água salgada quando chora. E foi a possibilidade de olhar para dentro do corpo que rendeu conhecimentos que deveriam ter aposentado verdades antigas. Todavia, infelizmente a experiência vem demonstrando que concepções científicas inadequadas têm vida própria.
Abrigos muito populosos tendem a produzir imobilismos. Talvez seja por esse motivo que consensos demoram a ser abandonados. O eco entre idéias carrega a falsa sensação de certeza, essa vizinha habitual da verdade – o que explica a lerdeza da transformação nas grandes comunidades que comungam dos mesmos pressupostos. Todo aquele para quem os vínculos humanos constituem assunto de interesse chega, mais cedo ou mais tarde, à tarefa de enfrentar o corpo como questão. No momento em que isso ocorre, sugere-se uma investigação com uma lógica brotada de conexões (Sodré, 2002) para transgredir as culturas bibliográficas que delimitam territórios e bloqueiam o acesso de estrangeiros a seus domínios. Este texto, porque considera insustentável a demarcação de geografias epistemológicas intransigentes, propõe uma ação de contaminação cultural e dela nasce voluntariamente mestiço.


Corpo, mente, movimento

O mais freqüente, quando o assunto é o corpo humano, tem sido começar por Descartes e suas duas rés (extensa, a máquina física reflexa/ pensante, a máquina cognitiva não-física). Porém, muito antes dele, Platão (428 – 348 a.C) já havia formulado uma proposta, forte a ponto de ainda sobreviver entre nós. Quando diz, no Phaedrus, que a essência da alma é gerar movimento, trata o corpo como aquilo que precisa de algo, que ele mesmo não é, para se tornar vivo e humano. Na sua descrição, o movimento necessita ser ativado, o que ocorre a partir de uma fonte interna ou externa. Platão é claro: só pode ser considerado vivo o corpo movido pela força interna (que nomeia de alma), ela, sim, imortal. Quanto ao corpo que se move por ação de uma fonte externa, como não tem alma, não pode ser considerado vivo nem humano. A noção do corpo como recipiente onde elementos se transmutam encontra-se também nos alquimistas (Gasc, 1987), que atribuíam ao corpo humano a propriedade de transformar comida em sabedoria e fizeram deste o modelo para a transformação de metal em ouro.

Em outra perspectiva, descarta-se entendimentos do corpo como algo ao qual se agregam conteúdos. A coleção de informações que dá nascimento ao corpo humano o faz quando se organiza como uma mídia dos processos sempre em curso - daí a transitoriedade da sua forma. Por isso, olhar o corpo representa sempre olhar o ambiente que constitui a sua materialidade. O verbo precisa estar no presente (constitui) para dar ênfase ao caráter processual dessas operações, em fluxo inestancável, que fazem descer as antigas separações entre natureza e cultura pela enxurrada que a sua argumentação teórica promove.

Seu corpo não é e não poderia ser um recipiente para uma mente desencarnada. O conceito de mente separada do corpo é um conceito metafórico. Pode ser uma conseqüência, como foi para Descartes, da metáfora do Conhecer é Ver, a qual, por sua vez, nasce da experiência embodied (materializada) desde o nascimento, de ganhar conhecimento através da visão (Lakoff e Johnson, 1999: 561-562). A compreensão do corpo vivo como sendo o que possui acionamento interno do seu movimento (o seu diferencial) implicou na necessidade de buscar a localização desse comando (a alma platônica, a mente cartesiana) dentro do corpo. Para Galeno (c.130 - c.200), por exemplo, a alma ficava no encéfalo, e os nervos saíam de lá ou da coluna vertebral para controlar os músculos, que considerava como sendo os instrumentos do movimento voluntário.

A proposta de um corpo humano dotado de algo que o distingue de todos os outros irá atravessar muitos séculos e impregnar as mais distintas formulações filosóficas. Nelas, o corpo será apresentado como aquilo que recebe esse comando quando nasce e é por ele abandonado na morte (quando se torna inerte, não vivo, sem movimento). Até mesmo Hal 9000, o computador criado por Stanley Kubrick em "2001, uma Odisséia no Espaço" (1968), repetiu algumas vezes, com uma voz cada vez mais pausada, antes de ser definitivamente desligado: I'm afraid, Dave. My mind is going, Dave. I can feel it. (Tenho medo, Dave. Minha mente está desaparecendo, Dave. Posso sentir isso acontecendo). A questão do movimento se mostra crucial quando o assunto é corpo. Todavia, estivemos sempre tão absorvidos pela aceitação dos cinco sentidos como o teste central do que nos cerca que não nos demos conta de que faltava arrolar o movimento nesse mesmo conjunto de características do corpo humano.

Para colocar como J.J.Gibson alguns anos atrás, é preciso se mover para poder perceber, mas também perceber para poder se movimentar (Ginsburg, 2001: 70). Ler o corpo significa reconstruí-lo sempre. Não há um corpo único, à espera de dissecação para, então, deixar de ser um objeto mudo porque terá as suas partes identificada e descritas. Não têm sido poupados esforços na busca de argumentos para derrubar a idéia de corpo imutável e dado a priori. A inteligibilidade científica, como se sabe, também depende do compartilhamento das referências que guiaram a sua constituição. À luz da fenomenologia, por exemplo, tem sido propostas novas nomenclaturas como a da corporalidade ao invés de corpo (Bernard, 2001), na tentativa de afirmar a plasticidade do fluxo de informações e negar a metáfora do organismo como aquilo que é inato e comum a todos. Emprestando uma metáfora de outra natureza, neste caso do âmbito jurídico, Jean Luc-Nancy (2001) proporá a palavra corpus ao invés de corpo, salientando o corpo como uma ação e não como produto. Falar de corpus, segundo Nancy, é reconhecer que cada corpo representa um caso particular, ou seja, a cada corpo corresponderia uma jurisdição própria. Vale lembrar que, ao tempo de Vesalius, aquele que havia refutado Galeno, o termo em circulação nas universidades européias era corpus.

A inoculação do Corpomídia


Ao invés de um resultado biológico, uma mídia. Esta proposta deseja ser inoculada ao modo daquelas doenças transmissíveis por uma causa comum e geral como a alteração do ar. Pois ambiciona se tornar um tipo de vírus que torne os sujeitos inoculados imunes a conceitos de corpo fora da co-evolução. A varíola produziu um primeiro gesto, desconcertante para o século XVIII, por introduzir o mal no sangue através de incisões na pele. Sem dúvida, é preciso uma mudança na percepção e na representação do corpo para tornar aceitável um gesto tão alarmante como este da inoculação do mal. Certamente, é preciso um deslocamento de outras lógicas, como aquela do funcionamento e do estado dos órgãos, para que a apreciação do contato seja modificada (Vigarello, 2002: 14). O valor simbólico da idéia de inoculação, um método para defender grupos humanos, põe em cheque a compreensão arcaica dos órgãos. Em primeiro lugar, não se baseia na luta do mal contra o mal que, então, se anulariam. A inoculação provoca uma desordem, causa um pequeno mal transitório, uma perturbação dirigida (Vigarello), e resulta em uma proteção para o corpo.

Não mais um envelopamento do corpo com bandagens, panos, couros, invólucros protetores, mas um corpo protegido pelas suas forças internas. A idéia de inoculação promove uma reorientação na imagem do corpo. O conceito de Corpomídia também propõe uma reorientação às tradicionais explicações de veículo e meio. Não mais um corpo como uma caixa preta onde adentram os inputs do ambiente, que lá são processados e, em seguida, devolvidos como resposta (outputs). Mas um corpo que não existe senão como trânsito, em tempo real das suas negociações com o que o cerca. Um corpo que apenas está. Nem só biologia, nem só cultura. Charles Darwin, no seu livro divisor de águas, Sobre a Origem das Espécies, publicado em 1859, apresenta argumentos que provam que a vida surgiu, se estabilizou e ganhou permanência por efeito da seleção natural. A antropologia tradicional, porque entendia cultura como uma forma de socialização tipicamente humana, divergia do conceito que circula hoje, graças aos avanços da etologia contemporânea, e que entende comportamento cultural como aquele que se estabiliza por transmissão social.

Portanto, não é determinado exclusivamente pela genética nem pelo ambiente. A cultura não nasce por um rompimento com a condição animal, mas sim como fruto de uma continuidade ininterrupta das características comuns a todos os seres vivos. E a seleção natural explica porque algumas informações sobrevivem enquanto outras desaparecem nesse fluxo ininterrupto.


Corpomídia e embodiment


George Lakoff e Mark Johnson (1999) defendem que a verdade não resulta simplesmente de um correto ajustamento entre palavras e o mundo porque há um corpo se interpondo nessa relação. Sustentam que os conceitos são encarnados e não imaterialidades produzidas pela atividade do raciocínio. Os mesmos mecanismos neuronais e cognitivos que nos permitem perceber o que está ao nosso redor criam em nós conceitos e raciocínios. Ou seja, para entender porque e como raciocinamos precisamos saber do papel que desempenham nesse processo o nosso sistema sensório-motor. A razão não é desencarnada nem tampouco transcendente, universal; ao contrário do que se tornou consensual, ela não é sequer consciente e sim, na sua maior parte, inconsciente; também não é literal, e sim, altamente metafórica e imaginativa; e não é neutra, mas sim carregada de emoção.

Compreendendo que razão e emoção fazem parte da mesma ação de conhecer, que natureza não se contrapõe à cultura, caminha-se com mais conforto para a hipótese de que o corpo é, então, aquilo que a evolução permitiu que ele fosse - uma seleção entre as informações disponíveis no universo, operada ao longo de milhões de anos, desde que a vida surgiu. Aparentemente estável, pois seu design se mantém há um longo tempo, resultou de um tipo de acordo pautado pela sua plasticidade. O corpo é uma mídia, um processo constante, permanente e transitório, de acomodamento dessas trocas inestancáveis com o ambiente onde vive. Mudar o nossos relacionamentos com os outros e com o mundo é sempre um processo encarnado. Como esse, que estamos realizando em conjunto, aqui e agora.

Bibliografia Básica:

Bernard, Michel (2001). De la Création Chorégraphique. Paris: Centre
Nactional de la Danse.
Bernard, Michel (2ed, 1986). L' Expressivité du corps. Paris: Chiron.
Blackmore, Susan (1999). The Meme Machine. Oxford: Oxford University Press.
Certeau, Michel de (2001). A Cultura no plural - 2ª edição. Tradução de Enid
Abreu Dobranszky. São Paulo: Papirus Editora / Travessia do século.
Churchland, Patricia S. e Terence J. Sejnowski (1994). The Computational
Brain. Cambridge e Londres: The MIT Press.
Ginsburgs, Carl (2001). Mind and Motion. A Review of Alain Berthoz¹s The
Brain¹s Sense of Movement². In Journal of Conciousness Studies, Vol. 8. No.
11, pp. 65-73.
Lakoff, George e Mark Johnson (1999). Philosophy in the Flesh. The Embodied
Mind and Its Challenge to Western Thought. New York: Basic Books.
------------------- (1980). Metaphors we live by. Chicago: University of
Chicago Press.
Llinás, Rodolfo (2002). I of the Vortex. Massachussets, Londres: Bradford
Books.
Nancy, Jean-Luc (2001). Corpus. Paris: PUF, .
Schlander, Judith (1995). Les Métaphores de l' organisme. Paris: Harmattan.
Sodré, Muniz (2002). A forma de vida da mídia. Entrevista à Revista Fapesp,
pp.86-89.
------------------ (2002). Antropológica do Espelho. Rio de Janeiro:
Vozes/CNPq.
Steward, Edward C. (2001). ³Culture of the Mind. On the origins of meaning
and emotion², in Culture in the Communication Age, pp. 9-30. Londres e Nova
York: Routledge.
Varela, Francisco e MArk R. Anspach (1994). ³The Body Thinks: The Immune
System in the Process of Somatic Individuation², in Materialities of
Communication, ed. Hans Ulrich Gumbrecht e K. Ludwig Pfeiffer. Standford:
Standford University Press.
Vigarello, Georges (2002). ³Inocular para Proteger: A Inoculação da Varíola
e a Imagem do Corpo² em Corpo & Cultura, vol. 25, pgs. 13-22. São Paulo:
Educ.
Weiss, Gail, (1999). body images. New York e Londres: Routledge.

Helena Katz é pesquisadora e professora na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.


Revista TFC. Link aqui.

A desfronteirização das metáforas ontológicas no corpo artista, por Christine Greiner

RESUMO

Partindo da proposta de que o corpo artista tem aptidão para perverter o percurso cognitivo das metáforas de orientação (Lakoff-Johnson), como nas experiências de Antonin Artaud, Vaslav Nijinsky e Tatsumi Hijikata, a autora observa que as metáforas da morte das quais emerge o corpo em estado de crise, parecem se organizar com bastante reincidência a partir de três ações primárias: esvaziar (o corpo de dentro), inverter (o corpo casca) e cortar (o corpo de conexões). Indo além da obra destes artistas, Greiner aponta caminhos para a constante (re)construção de significados no corpo do artista.

Há cerca de vinte anos, os pesquisadores George Lakoff e Mark Johnson (1980 e 1999) começaram a estudar o que chamaram de metáforas de orientação (espaço-temporal). Segundo estes filósofos-linguistas, é a partir delas que o mundo se organiza e se internaliza nos corpos. Esta comunicação parte da proposta de que o corpo artista tem aptidão para perverter esse percurso cognitivo, arriscando muitas vezes a sua estabilidade como organismo. Para estudar esse processo que desfronteiriza acionamentos e conexões, são propostas três possibilidades de mapas filosófico-anatômicos que seriam, de fato, projetos cada qual com seu design de movimento: o corpo visceral (corpo de dentro), o corpo casca (corpo de fora) e o corpo juntas (corpo de conexões).

A idéia partiu de algumas experiências específicas como as de Antonin Artaud, Vaslav Nijinsky e Tatsumi Hijikata para de algum modo abstraí-las, num segundo momento, buscando novas conexões no mundo contemporâneo. Evidentemente, este texto é apenas um fragmento de uma pesquisa mais longa, cujo objetivo é reconhecer algumas representações de corpos em estado de crise, especificamente aquelas que investigam as metáforas da morte. Muitas delas parecem da mesma família, mas nem sempre partilham uma relação de "influência". As fontes são dificilmente detectadas com exatidão e as relações são bem mais complexas do que ações diretas de causa e efeito. No discurso de muitos artistas, nem toda citação é clara. Trata-se de uma negligência própria ao processo de criação, quando espasmos devoram informações de fora e de dentro do corpo, de modo não seqüencial. Nestes momentos, o que interessa é o ato, a poesia, no sentido definido pelo surrealista Takiguchi Shûzô: "A poesia não é uma crença. Nem uma lógica. A poesia é ato. O ato que dispensa todos os outros atos. O instante onde a sombra do sonho parece a sombra do poema."

Mas isso não significa que tudo seja aleatório, sem construção, aproximando-se da antiga crença de que o artista apenas sente e não racionaliza. É preciso tomar cuidado com as armadilhas das oposições simplórias. As dificuldades, evidentemente, são muitas e já nascem de imediato. Quando um corpo se encontra em estado de crise, paradoxalmente, cria um universo simbólico mas, ao mesmo tempo, rompe a membrana imaginária que, de algum modo, separava os sistemas arte e vida. Embora alguns artistas já anunciassem mudanças importantes, tais fronteiras ainda pareciam um alívio necessário para historiadores da arte, críticos e para o público em geral. Mas a crise que não é apenas temática, fere e perverte a materialidade do sistema onde se encontra, exigindo uma configuração lógica distinta para ser observada. Os limites são de uma plasticidade intolerável.

Não há, por exemplo, dualidades onde cada instância permaneça em seu devido lugar, preservada, como é típico das classificações sujeito e objeto, universo real e universo simbólico, corpo e corporalidade. Como tantas vezes já me perguntaram, devo esclarecer que, de algum modo, esta crise não está apartada de outras (de caráter social, político, filosófico, epistemológico e, muitas vezes, psicológico), mas se mantém absolutamente singular porque o seu estado de existência se organiza como representação da metáfora da morte. Ao invés de se constituir como um alívio, a metáfora neste caso pode ser (e quase sempre é) de uma crueldade extrema. A sua essência é sempre entender e experienciar um tipo de coisa em termos de outra, como explicaram Lakoff e Johnson (1980, 1999).

A obra destes filósofos-linguistas é fundamental porque explica a metáfora como operação cognitiva e não apenas como figura de linguagem como estudamos no colégio. Mas para analisar este caso do corpo em crise e suas metáforas, a questão que move a discussão está em como se realiza a operação. A morte, para estes artistas, pode ser entendida de modos diferentes, a partir de ações distintas, mas amparada irremediavelmente pela sombra da decomposição de tudo que se insinua estável, pronto, digerível. Buscando uma aproximação maior com alguns desses procedimentos, observo que as metáforas da morte das quais emerge o corpo em estado de crise, parecem se organizar com bastante reincidência a partir de três ações que por isso mesmo (e apenas neste contexto específico), podem ser consideradas ações primárias: esvaziar (o corpo de dentro), inverter (o corpo casca) e cortar(o corpo de conexões). Estas se desdobram em muitas outras que podem ser identificadas como possíveis versões e gradações das primeiras como dissecar, exceder, transbordar, inanimar, desestabilizar, desconstruir, desconectar, desarticular e romper. Daí as referências a Artaud e a sua proposta de esvaziar o corpo dos automatismos dos órgãos, a Nijinsky e a inversão dos limites, o reconhecimento da pele de dentro, do limiar entre sanidade e loucura; e a Hijikata quando propõe romper as conexões, tanto no sentido das articulações do corpo, como naquele das articulações do pensamento.

Junto às ações, emergem imagens, ora mais, ora menos estáveis. Estas não são visíveis como pinturas e fotografias. São imagens mentais corporificadas. Se vão ou não ser implementadas em produtos diversos
(quadros, danças, poemas etc) e como isso vai acontecer, já é uma segunda parte da história que se refere a cadeias evolutivas de processos anteriores já dissipados pelo tempo.A proposta principal desta pesquisa é reconhecer portanto alguns desses processos de representação e estudá-los com a convicção de que não se trata de produtos, conceitos ou modelos reproduzíveis, mas sim de uma espécie de "operadores" aptos a desestabilizar os diversos sistemas onde podem, precariamente, ser identificados.

É preciso tomar cuidado porque, apesar da tentação, não se pode considerar esses operadores como matrizes. A idéia tradicional de matriz (algo dado a priori) é inapropriada para este estudo. O que parece possível, neste momento, é observar que tais operadores são perecíveis e fadados à própria corrosão, tornando-se visíveis apenas quando emergem os "estados de crise". Eles nascem da conexão dentro-fora, de um supostamente antes e depois de tudo como instâncias espaço-temporais que convivem de modo não antagônico nem determinista, a partir de eixos de ocorrência. A chave está na transgressão do que Lakoff e Johnson (1980) chamaram de metáforas ontológicas. Estas são quase sempre de natureza espaço-temporal, sugerindo noções de borda, começo, fim, dentro, fora, continuidade e assim por diante. Agindo incisivamente neste campo, a partir de ações primárias, alguns artistas construíram ambientes de experimentação e, muitas vezes, se deixaram consumir antes de ter uma forma reconhecível, habitualmente identificada como uma distinção evidente entre sujeito e objeto, artista e obra. Outros criadores padeceram depois, quando tudo parecia já ter acabado, à sombra da ilusão de algo pronto.

Esta condição precária de existência é própria à natureza do corpo e de suas habilidades sensório-motoras em todas as situações da vida cotidiana e não apenas durante os processos de criação artística. No entanto, quando se configura como um estado de pós-morte, como sugere o artista Jan Fabre, rompe padrões internalizados anteriormente. Lembra, muitas vezes, um estado entre o sono e a vigília, quando um corpo eternamente febril torna-se uma espécie de consciência amortecida da realidade. É quando se propõe uma nova anatomia e funcionalidade para o corpo que apenas ganha forma visível a partir dos movimentos que engendra. Está mais voltada à investigação das condições de percepção do que a essências formais ou à existência de categorias. É, portanto, um mapeamento anatômico mas que só pode ser identificado a partir de suas ações e imagens.

Não há qualquer esperança de completude ou determinação. Teorias de fundamentação semiótica e científico-filosófica que também estudam os processos de representação e de interiorização da informação em um corpo, ajudam a esclarecer esse processo de deterioração, já testado por tantos artistas geniais. O corpo em crise, evidentemente, não nasceu com o butô e os experimentos de Hijikata, nem com as frases-poemas-imagens que absorveu de Artaud e de outros (escritores, pintores, músicos, filósofos, fotógrafos, coreógrafos ...) com quem construiu um dos pensamentos mais desconcertantes do século XX. Surgiu muitos séculos antes e pereceu tantas vezes quantas se fez relembrar, podendo ser observado a partir de diferentes níveis de descrição nos quais me baseio para realizar a pesquisa.

Uma estranha temporalidade ronda os processos de aparente "recuperação" de antigos movimentos artísticos. O que se chama de radical, a partir do sentido de radix, explica Hal Foster (2001:2), tem a ver com "em direção à raiz". Radicalizar, neste sentido, seria estabelecer conexões latentes discerníveis a partir do deslocamento do objeto. É como se houvessem dois movimentos inseparáveis: o temporal que reconhece o passado no presente e o espacial que instaura um novo ambiente (rede de informação) para trabalhar, mas também age temporalmente, lançando presente e passado no futuro. Segundo Foster (op.cit:13), é sempre uma relação complexa entre antecipação e reconstrução. Fazendo uma analogia com os estudos de Sigmund Freud, o crítico lembra que um evento só é registrado através de outro que o
recodifica e é assim que chegamos a ser quem somos, a partir de ações retroativas (Nachtraglichkeit). Não há repetição, apenas reconstrução. A chave está nos modos de percepção e cognição e em como as ações se transformam a partir dos seus processos de comunicação.

De algum modo, em sua obra Rastros e Passos (2003), a crítica literária e teatral Berta Waldman discute de modo semelhante um exemplo, referente à interferência judaica no Brasil a partir da literatura, e propõe que há distinções importantes entre história e memória, sobretudo no que se refere ao passado. De acordo com a autora, a partir de estratégias muito particulares, a história jamais recupera o passado, mas rompe com ele o tempo todo, uma vez que o reconstitui usando os seus vestígios. Embora esta operação aconteça no presente, ela tem como partitura sempre uma ação que já ocorreu. No caso da memória, ela também traz de algum modo rastros de um tempo e de eventos que já passaram, mas o que parece tentar reconstituir é o próprio presente em processos incessantes de reatualização. Neste caso, não é o passado que se apresenta, mas as atualizações de seus percursos cognitivos. Isto quer dizer que o passado se atualiza nos estados presentes do corpo.

Esta seria outra chave importante que ajuda, desta vez, a identificar não apenas as ações que comunicam e os padrões que sobrevivem, mas as instabilidades, os processos de mudança e o colapso das certezas.

Bibliografia Básica:

Artaud, Antonin. Héliogabale ou L' Anarchiste Couronné. Paris: L' Imaginaire,
Gallimard, 1979.
Foster, Hal. The return of the real. New York: October Book, 1996.
Genet, Jean. Ouevres Complètes. Paris: Gallimard, 1951.
Hijikata Tatsumi. Butô-fu. Tóquio: Arquivo da Universidade Keio, 1970-1986.
Lakoff, G. e Mark Johnson. Metaphors we live by. New York, Basic Books,
1980.
_______________________Philosophy in the Flesh. The Embodied Mind and its
Challenge to Western Thought. New York, Basic Books, 1999.
Aslan Odette. Butô (s). Paris: CNRS, 2002.
Waldman, Berta. Passos e Rastros. São Paulo: Perspectiva, 2003.
Nijinsky, Vaslav. The Diary of Vaslav Nijinsky, ed Romola Nijinsky.
University of California Press, 1968.

Christine Greiner é pesquisadora e professora na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.



Revista TFC. Link
aqui.

Guillermo Gómez-Peña: In defense of performance art

Question: "Excuse me, can you define performance art?”
Answers:
-“A bunch of weirdoes who love to get naked and scream about leftist politics.” (Yuppie in a bar)
-“Performance artists are…bad actors.”(A “good” actor)
-“You mean, those decadent and elitist liberals who hide behind the art thing to beg for government money?” (Politician)
-“It’s…just…very, very cool stuff. Makes you… think and shit.”(My nephew)
-"Performance is both the anti-thesis of and the antidote to high culture." (Performance Artist)
-“I’ll answer you with a joke: What do you get when you mix a comedian with a performance artist?…A joke that no one understands” (A friend)



With no pain and no drain,
I could be the man I
always wanted to be.
Sew and ye shall reap.

(Pat Oleszko)

Meu corpo sai de mim



(Homenagem a Francis Bacon)

Experimentos luz







Inspirações: Santiago Cao






"Todo lo que no es Cristo; todo lo que no encaja con la visión católica de Cristo, es un 'Anti-Cristo'”




O site do cara aqui.

Inspirações: "no one", de Marcus Vinícius

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Corpo do dia: Mariah Carey

Encontro com a orientadora

Anotações do encontro realizado no dia 04/04/2011:

- tentar cada vez mais aproximar a pesquisa do teatro, para não ficar muito atrelado à Performance art e poder parecer um estudo das artes visuais;

- discorrer mais sobre o processo: escolha da equipe, entrada do Ricardo na cena etc.

- utilizar na apresentação da qualificação excertos dos diários e do blog;

- dissertar mais sobre a relação com o vídeo, a experiência prática com o vídeo;

- expressar mais claramente o caráter interdisciplinar do trabalho;

- reforçar a metodologia própria criada para os ensaios (processos de improvisação).