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terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Mulheres-putas de Amsterdã

Estamos todos na vitrine.
Sendo observados.
Sendo consumidos.
Invariavelmente.
Como as mulheres-putas de Amsterdã.
Nós somos as mulheres-putas de Amsterdã.
Invariavelmente.
Mas nossas vitrines são feitas de espelhos.
Nos vemos por dentro e gostamos do que vemos.
Como narcisos perdidos em um shopping center.
Queremos ver mais.
Consumir mais.
Espelhar mais.
Queremos fuder as mulheres-putas de Amsterdã.
E só assim nos encontraremos.

(Daniel Colin - 04 de janeiro de 2012)

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Narciso-me

Sei que é tarde mas não me encontro
E se eu dormir e acordar diferente
Sem meu rosto
Seria um alívio
Confesso
Mas seria quem?
Quem?
Sem rosto
Alguém sem rosto
Ou com o rosto de alguém
Ninguém
Meu rosto sou eu?
Seu rosto é meu?
Quanto vale o seu rosto?
E o meu?
E se eu sonhar que sou outro alguém
Dorian Grey
Mantenha-me assim
Sempre assim
O que for melhor de mim
E o pior de mim...
Bota fora
Troca substitui subtrai suaviza substantiza supervisiona suplementa cicatriza
Embeleza
O pior de mim
Sei que é tarde
Mas meu corpo implode
Meu rosto afunda aprofunda
Meus dentes meus olhos meu nariz minha boca
Meu cabelo meu cérebro minhas orelhas
Meu peito meus braços antebraços coração
Minhas mãos
Meu pau meu cu meu culhão
Intestinos estômago
Joelhos pernas pés
Num vácuo de mim
Pra mim
Autofagia
Narciso-me

(06/10/2011)

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Jesus Cristo vs. Narciso


"Imitar Jesus Cristo designaria um limite. Mas esse limite designa também a tentativa de exceder a imagem pela imagem encarnada. A própria crença é completamente implicada por esse nó. Enquanto a imitação visava a semelhança e se dava o espelho como problema visual, a encarnação propõe processo e o primado da matéria a partir da noção de traços ou vestígios de Cristo. Por isso, os mitos da origem da imagem cristã implicam a luz, o sangue e o contato, enquanto os mitos plinianos ou ovidianos - tal como Narciso - implicam mais a sombra, o reflexo, a distância insuperável" (MATESCO, Viviane. Corpo, imagem e representação. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2009, p. 20).



sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Drácula vs. Narciso

"E quando nos vemos no espelho, o que vemos refletido é a imagem do Narciso que está em nós, mas não do vampiro que nos habita: este sempre escapa, mas escapa como viajante nômade (...). O vampiro que somos torna possível a imagem do Narciso que vemos: mas o vampiro é o que não pode ser contemplado, já que o espelho não reproduz a imagem de vampiro. Drácula contra Narciso" (SOUZA apud TUCHERMAN, Ieda. Breve história do corpo e seus monstros. p. 18-19)





quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Narciso e Narciso, de Ferreira Gullar



Se Narciso se encontra com Narciso
e um deles finge
que ao outro admira
(para sentir-se admirado),
o outro
pela mesma razão finge também
e ambos acreditam na mentira.
Para Narciso
o olhar do outro, a voz
do outro, o corpo
é sempre o espelho
em que ele a própria imagem mira.
E se o outro é
como ele
outro Narciso,
é espelho contra espelho:
o olhar que mira
reflete o que o admira
num jogo multiplicado em que a mentira
de Narciso a Narciso
inventa o paraíso.
E se amam mentindo
no fingimento que é necessidade
e assim
mais verdadeiro que a verdade.

Mas exige, o amor fingido,
ser sincero
o amor que como ele
é fingimento.
E fingem mais
os dois
com o mesmo esmero
com mais e mais cuidado
- e a mentira se torna desespero.
Assim amam-se agora
se odiando.
O espelho
embaciado,
já Narciso em Narciso não se mira:
se torturam
se ferem
não se largam
que o inferno de Narciso
é ver que o admiravam de mentira.


(Ricardo Zigomático, ensaio de 26 de janeiro de 2011. Foto: Thais Fernandes)