domingo, 22 de janeiro de 2012

Artigo: "Poéticas secrecionales. Los cuerpos abyectos en las performances de Rosemberg Sandoval", de Ileana Diéguez


Las primeras consideraciones en torno a una poética secrecional fueron
planteadas por Antonin Artaud, quien insistió en en el teatro como “acto y emanación
perpetua”(1969, 150), como producción de estados no racionales y riesgos vitales. Si
bien en sus primeros textos ya emergía una corporalidad poética que redimensionaba
la teatralidad, hacia finales de la siguiente década Artaud va a proponer una
corporalidad escatológica. El cuerpo que produce y expulsa secreciones no puede
prescindir de la muerte de lo propio. La materia fecal expulsada es constitutiva de
vida2. Esta experiencia que se concreta en materia poética a través de la escritura
remite a visiones cosmogónicas duales, al cuerpo doble de la concepción grotesca.
Para Artaud la obra artística se configura con desechos propios: una escritura de
desechos y de secreciones corporales también constituye una secreción del propio
cuerpo. La escatología grotesca de este Artaud –Para acabar de una vez con el juicio
de Dios- se concreta en una textualidad poética donde la palabra es aún el medio para
la representación de los dramas corporales, configurando “una textualidad del cuerpo”
(Weisz, 1997).
(...)


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Cuaderno de anatomía




segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

"Há casos em que partes do próprio corpo de uma pessoa, inclusive partes de sua própria vida mental - suas percepções, pensamentos e sentimentos - lhe parecem estranhos e como não pertencentes ao seu Eu. Há outros casos em que a pessoa atribui ao mundo externo coisas que claramente se originam em seu próprio Eu e por este deixam de ser reconhecidos" (FREUD; p. 84:1930).


FREUD, Sigmund. O Mal-Estar na Civilização(1930[1929]) [ Das Unbehagen in der Kultur (Viena, G.S., 12, 29; G.W., 14,421)Trad. Inglês: `Civilization and its Discontents' (Londres, 1930; Nova Iorque, 1961; Standard Ed., 21, 59)] Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud Vol.XXI. Rio de Janeiro. IMAGO 1974


PS: Brigado pela citação, Renata!

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

“Michael Jackson: he loves America and America loves him”


“Michael Jackson: he loves America and America loves him”[1]

por Daniel Colin (mestrando em Artes Cênicas pelo PPGAC-UFRGS)


Sempre fui fascinado por Michael Jackson. Primeiramente, por sua maestria como bailarino. Movimentos marcantes, precisos, audaciosos. Fortes. Um dançarino a ser copiado! Depois, por tudo aquilo que sua vida polêmica proporcionou à imprensa mundial – e vice-versa: as perceptíveis transformações corporais, os supostos casos de pedofilia, as inquietantes dubiedades de etnia, gênero e sexualidade. Fascinava-me a possibilidade de um mesmo ser humano apresentar facetas tão diferenciadas.

Acredito que a maioria das pessoas conheça Michael Jackson e saiba que ele é um dos poucos artistas que o mundo pôde consumir desde (quase) sempre: depois de despontar para a fama juntamente com seus irmãos no grupo “Jackson 5”, ainda adolescente, Michael jamais conseguiu deixar de ser alvo de especulações mercadológicas. Sua imagem estampou as principais notícias e manchetes ligadas ao universo da música pop, sobretudo nos anos 80 e 90. Sobretudo porque, apesar de todo o sucesso de seus recordes de vendas, Michael virou um tema polêmico a partir de meados da década de 1980, quando começou a apresentar alterações bastante significativas em sua aparência. Discorrer sobre isto tornou-se lugar-comum, tão discutido já foi na mídia. Ao pesquisar na internet sobre as tranformações corporais de Michael Jackson, por exemplo, acabei por encontrar uma foto com as diferentes fisionomias do cantor, seguida da frase “America is the only country of the world where a poor black boy can grow up to be a beautiful rich white (wo)man”[2]. É uma frase-manifesto que resume muito do que o mundo questionou acerca do “mito-MJ”: além da evidente crítica às questões referentes às diferenças de classes sociais e raças nos EUA, a frase salienta a palavra “beautiful” (bonito) no intuito de questionar o conceito de beleza corporal, além de ainda questionar o gênero e a sexualidade do astro ao fazer um trocadilho com a palavra “man” (homem), sugerindo que ela pode se tornar a palavra “woman” (mulher). Eis colocada a pergunta que a maioria se fazia àquela época: Michael era um homem ainda? Mulher? Afeminado? Negro ou branco? Gay? Como classificá-lo? Por estas e por tantas outras histórias excêntricas, Michael chegou a ser chamado, pelo tablóide “The Sun”, de “Wacko Jacko”, algo como “Jacko: o louco”. O mundo olhava para Michael Jackson como um ser bizarro, seu corpo passou a ser tema de discussão, sobre o qual todos pareciam ter uma opinião formada. Se observarmos com apuro ao vídeo “Michael Jackson face Transformation[3], disponível no site youtube, podemos assistir às modificações pelas quais o rosto do cantor passou ao longo de aproximadamente 40 anos, que vão desde a imagem de um garoto negro com nariz largo e sorriso jovial até a de um homem branco, magro, com nariz exageradamente afunilado e olhar tristonho. “If this is what’s happening outside, what’s going on inside?”, questiona o vídeo do final. Seria ele, portanto, um corpo dissonante, não, Malu Fontes?

Fontes (2007) utiliza o conceito de corpo dissonante para denominar todo corpo “não válido quando comparado e confrontado com a lógica da boa forma e do vigor físicos. O corpo dissonante, (...) aquele que não adere aos artifícios de reformulação e adequação da aparência, tende a despertar reações de estranhamento e até mesmo de repulsa” (FONTES, 2007, p. 84). Por isso, com tantas manifestações de repúdio à imagem corporal de MJ nas últimas décadas de sua vida, podemos categorizá-lo como possuidor de um corpo dissonante. Certo? Provavelmente, mas não de modo tão dualista e inflexível. A dúvida vem expressa na pergunta de Mirna Spritzer feita a mim em minha banca de qualificação do mestrado[4]: “Mas e quando ele dançava, continuava a ser um corpo dissonante”? Pois é exatamente esta a questão, Mirna. Acredito que não. Quem não gostaria de dançar como Michael Jackson, um dançarino impressionante, elogiado por grandes coreógrafos e bailarinos como Fred Astaire, Gene Kelly e Bob Fosse (TARABORRELLI, 2009, p. 240-243) e criador do inigualável moonwalk? Michael era canônico[5] em seus passos, em sua dança característica, que pode ser reconhecida ainda hoje por qualquer um que tente imitá-lo.

Há um vídeo que pode ser utilizado como exemplo desta ambivalência, a meu ver: o videoclipe da música “Black or White” (título extremamente sugestivo)[6]. Nele, MJ consegue utilizar sua exímia habilidade corporal para extravasar sentimentos absolutamente pessoais e, desta maneira, causar estranhamento e repulsa de vários espectadores. Luis Cerveró elegeu este clipe como aquele que sintetiza a importância, a originalidade, a peculiaridade e até a solidão do trabalho videográfico e coreográfico de Michael Jackson (CERVERÓ, 2009, p. 49). “Black or White” é aquele videoclipe muito famoso em que Michael dança com pessoas de várias etnias em seus países de origem, lembram? Pois bem... Quando foi lançado em 1991, “Black or White” foi assistido por milhões de pessoas em todo o mundo, ao vivo, e apresentou um epílogo controverso que foi extremamente criticado e censurado no dia seguinte, obrigando o cantor a pedir desculpas publicamente pelo “lamentável incidente”. Do que se trata a famigerada cena?

Vemos uma pantera negra cruzar o set no qual estão gravando o clipe da música “Black or White”. Ninguém nota a tal pantera que desfila graciosamente e sai em direção a um beco escuro.

“Vem, então, a noite escura da alma racial e sexual de Michael. O vídeo passa da cor intensa e clara para o preto e branco. Estamos em uma rua estreita. Uma pantera negra transforma-se em Michael Jackson vestido de couro negro e dançando como possesso na capota de um carro negro. ‘Hitler vive’, está escrito em uma parede. ‘KKK comanda’ está pichado na janela de um carro. Com longos gritos, Michael sacode as janelas e portas. Enquanto ele dança – um violento sapateado sem os sons reais da batida dos sapatos, o que torna a cena estranhamente sinistra – vemos e sentimos a percussão, mas não ouvimos. Cria-se uma estranha tensão. Em parte, por ser uma demonstração sinuosa e elegante, como é o sapateado. Em grande parte, porque a cada batida ele alisa, agarra e acaricia seu... falo.” (JEFFERSON, 2006, p. 89).

A dança de Michael acontece no silêncio e faz lembrar uma das citações mais bonitas do livro de José Gil (2001): “não se trata do silêncio, mas de qualquer coisa que não é da ordem nem da ausência nem do ‘branco psíquico’, qualquer coisa que quereria falar e não pode. Qualquer coisa que passa entre a fala e o silêncio e é o murmúrio do corpo que compõe seu sentido irradiante” (GIL, 2001, p. 218). O murmúrio do corpo... Neste silêncio, o corpo de Michael Jackson cria a música, preenche o espaço, destrói vidros e discursos. A entrega pessoal do artista é inegavelmente inquietante! Luis Cerveró afirma, de modo belíssimo, que a brutal honestidade da cena é quase pornográfica (CERVERÓ, 2009, p. 49). O epílogo de “Black or White” é centrado em uma coreografia extremamente poderosa, recheada de gestos carregados de emoção. Em um dos momentos finais da cena, Michael se ajoelha em uma poça d’água, gritando e rasgando sua camiseta. Parece gritar contra o mundo, contra as acusações e perseguições da sociedade, como uma continuação do que defendeu no videoclipe de “Leave me alone”. No entanto, nunca antes a fúria de Michael foi tão explícita, tão devastadora. Concreta e metaforicamente falando. Para mim, sinceramente, não há melhor exemplo de um corpo paradoxal (GIL, 2001, p. 68) quanto o de Michael Jackson neste epílogo. Os movimentos dançados são fortes e ousados; a mão sobre o falo torna-se constante, como se ele dissesse: “‘Ótimo, vocês precisam saber que sou um homem, um homem negro? Aqui está meu pênis. Eu o empurro para vocês! Não é isso que um homem deve fazer? Mas eu sou Michael Jackson, portanto apenas olhem mas não toquem.’” (JEFFERSON, 2006, p. 89). Através de sua dança, MJ conseguiu chocar o mundo e provocar manifestações de repúdio ao vídeo. Michael conseguiu, em aproximadamente quatro minutos e meio de projeção, ultrapassar os limites do “politicamente correto” com seus movimentos catárticos. “Dançar é fluir na imanência”, já diria José Gil (GIL, 2001, p. 55). O mundo presenciou um artista de grande notoriedade rebelar-se furiosamente contra suas próprias mazelas. Ao vivo. Para vários países do globo. E se chocou com isso. Mas por quê, exatamente? Ainda me pergunto... Seria tão incompreensível para a sociedade compreender como um “corpo-bailarino- canônico” pode conter também um “corpo-ser-humano- dissonante”? Seria tão absurdo não utilizarmos estas diferenciações cartesianas?

Ao final do vídeo, Michael escuta algum barulho e se metamorfoseia em pantera negra novamente. (Reparem que fomos acostumados a ver Michael se transformar em seus videoclipes, ora em monstros sobrenaturais - “Thriller” e “Ghosts” -, ora em animais soturnos - “Billie Jean”. Residiria aí, simbolicamente, o ódio que ele sentia ao seu próprio corpo?). Acuada, a pantera se vai. Foge. Parecendo se arrepender do que fez... Do mesmo modo, no dia seguinte à estreia mundial, MJ surge em uma coletiva de imprensa para pedir desculpas pelo “hediondo” epílogo, prometendo não mais “abalar as estruturas dos bons modos do american way of life” (expressão sarcástica minha!). MJ fugiu de seu próprio discurso, de sua própria revolta. Naquele momento, o homem-MJ não conseguiu abarcar a potência vingativa do artista-MJ, que, com movimentos de seu corpo frágil e magro, conseguiu chacoalhar a opinião pública. Michael tentou se enquadrar novamente na figura de “bom moço”. Ou pior: tentou voltar a ser o menino negro bonitinho que encantava nossos ouvidos com seu sorriso jovial e seu nariz largo. Mas não conseguiu.

BIBLIOGRAFIA

CERVERÓ, Luis. Bodysnatchers: apontamentos para uma história da dança (ou o corpo representado) no videoclipe. In: Revista dança em foco, vol. 3: Entre Imagem e Movimento. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria / Oi Futuro, 2008, p. 44-54.

FONTES, Malu. Os percursos do corpo na cultura contemporânea. In: COUTO, Edvaldo Souza; GOELLNER, Silvana Vilodre (orgs.). Corpos mutantes: ensaio sobre novas (d)eficiências corporais. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2007, p. 73-87.

JEFFERSON, Margo. Para entender Michael Jackson. Trad. Aulyde Soares Rodrigues. Rio de Janeiro: Rocco, 2006.

GIL, José. Movimento total – O Corpo e a Dança. Trad. Miguel Serras Pereira. Lisboa: Relógio D’Água Editores, 2001.

TARABORRELLI, J. Randy. Michael Jackson: a magia e a loucura. São Paulo: Globo, 2009.



[1] O título deste ensaio faz um trocadilho com o nome da famosa obra do performer alemão Joseph Beuys, “Coyote: I like America and America likes me”, no qual o artista ficou trancafiado em um museu com um coiote por 7 dias seguidos.

[2] “América (Estados Unidos) é o único país no mundo onde um garoto negro e pobre pode crescer e se tornar um belo e rico (mulher) homem branco” (tradução minha). In: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdJHXwti-x6S7KpnooQp60WimI39qPBhaaKXcqVxqSvhGDkuaQQjN8s7iwiqHyiyQWaVw4NMRxreXsuV15GTOP7RC2Owp5R9DbYtuNsxRm868n1yo6WAfFcZLFUA94c2ZVfDHQJg-i4lY/s1600-h/Michael+Jackson+transformation.jpg

[4] A banca de qualificação do meu mestrado (PPGAC-UFRGS) aconteceu no dia 12 de agosto de 2011 e foi composta pelas Professoras Doutoras Beth Lopes, Monica Dantas, Silvana Goellner e Mirna Spritzer. A frase supracitada foi exposta por Mirna Spritzer em seu parecer.

[5] Evidentemente, considero MJ como canônico em outro sentido que não o de Malu Fontes que conceitualiza um corpo canônico como aquele “(...) equivalente a uma determinada corporeidade físico-anatômica predominante na cena sociocultural contemporânea e corresponde a um modelo de construção da identidade e da imagem próprio das últimas décadas do século XX. É sinônimo do modelo corporal, marcado pelo culto à chamada boa forma física, o corpo estandartizado onipresente nos meios de comunicação de massa” (FONTES, 2007, p. 74). Não me restrinjo apenas à fisionomia, mas a outras qualidades corporais que estão intrínsecas a estas fisionomias.

[6] Para acessar o videoclipe sem cortes: http://www.youtube.com/watch?v=MJxOHD3Bsrw

Mulheres-putas de Amsterdã

Estamos todos na vitrine.
Sendo observados.
Sendo consumidos.
Invariavelmente.
Como as mulheres-putas de Amsterdã.
Nós somos as mulheres-putas de Amsterdã.
Invariavelmente.
Mas nossas vitrines são feitas de espelhos.
Nos vemos por dentro e gostamos do que vemos.
Como narcisos perdidos em um shopping center.
Queremos ver mais.
Consumir mais.
Espelhar mais.
Queremos fuder as mulheres-putas de Amsterdã.
E só assim nos encontraremos.

(Daniel Colin - 04 de janeiro de 2012)